quinta-feira, 11 de março de 2010

No Brasil não se pode mais morrer, por que a dívida continua existindo

Padornelo cruzeiro cemiterio Set. 2005

Existe sim divida “pós mortis”. No Brasil tem os “SEM TERRA”, e tem uma categoria de gente que por constrangimento não fala nada ou ninguém esta disposto a ouvir.

Os “SEM COVA” – Isso mesmo tem os sem cova no Brasil! Eu faço parte deles. Como eu não tenho o chão para morrer, e nem faço parte dos consorciados dos planos funerários contemplados deste mês, ou seja, não morri (ainda).

Portanto, eu não tenho o seguro “Obrigatório Funerário”. Você pergunta “Obrigatório”? Sim, é obrigatório, na medida em que se você for pobre e morrer, ou tiver um caso de morte na sua família, e não for um consorciado, não terá a mínima chance de ter uma cama de mármore polida, quiçá terra batida pro resto da eternidade. Além de morrer, que já é um PEPINÂO sem jeito. Sua família ainda arcará com os custos financeiros e morais do processo.

Não temos direito a uma morte assegurada. Nos cemitérios Municipais, pelo menos só sei municipal, não tenho conhecimento estadual ou federal. Sua cova, se conseguir com muito esforço e peixada segura, você poderá instalar-se ou instalar o novo inquilino apenas por dois anos. Por quê? Ora, uma palavrinha linda explica isso. ROTATIVIDADE

Significa que: - Ei, seu descansado, sai daí que vou deitar outro. Chispa!

A família que não conseguiu seu Jazigo vai encarar a seguinte situação:

Despejo "pós mortis" obrigatório. Sua carcaça será retirada, colocada num saco preto ou azul, muito semelhante ao do lixo de 100 litros e encostada num canto do cemitério para que a família venha pegar e dar despacho ao morto.

Eu vou relatar o que se passou comigo em 18 Março de 2008. Para que vocês tenham uma noção do que é morrer e não se ter nada pra dizer.

Meu pai, já com 94 anos vitima de um atropelamento covarde, e não socorrido. Foi enviando aos cuidados do povo que o pegou no chão, vitima de um Corola Branco que em um sábado a tarde estava “passeando” com um cidadão que prefiro me silenciar a comentá-lo. Isto, posto, de 19 h do mesmo, fomos chamados pelo Hospital de Trauma de João Pessoa – PB. Que havia entres eles um senhor de nome tal, e com endereço tal. Meu pai estava bem consciente e falava tudo. Acontece que ele por má negligência do hospital e o péssimo socorro, ficou paralitico da cintura pra baixo, com várias escoriações e uma perna deslocada. Não houve cirurgias, não houve tratamento algum para que ele se recuperasse, por que os médicos analisaram que ele não resistiria a uma operação. Terminado tudo isso, e sem muito mais adiantar, ele foi pra casa e cuidamos e tratamos por quase dois anos, entre idas e vindas de diversos hospitais. Até que ele veio a falecer em casa no dia 18 citado.

Pois bem, começou a feder daí. Após compra de caixão, velório, etc. Fomos enterrar, cadê? Que cemitério poderia recebê-lo? Corre atrás, Jazigo de 7 mil dinheiros nosso. Um absurdo!

Sem essa grana toda, parti pra amigos, conhecidos e peixes da prefeitura para colocar meu pai lá. Acontece que para isso, tinha um probleminha a ser resolvido. Vagas?

Tinha uma só, essa vaga aconteceria lá por volta de meio dia. Eu teria que esperar o dono do defunto a ser desenterrado. Tudo bem né, fazer o que, vamos esperar, ligo pra funerária e mando esperar, até segunda ordem. Lá pelas 11 h chega à pessoa que se diz responsável pela cova. A essa altura eu descubro que nao é defunto é defunta. A pessoa é marido da defunta que havia morrido dois anos antes vitima ataque cardíaco. Fomos apresentados num cordial cumprimento e falamos do acordo. Ele concordou, já que tinha acabado de comprar um jazigo, e iria retirar mesmo.

Começamos logo em seguida a desenterrar a esposa dele. Eu, dois amigos, o coveiro e o esposo. Com menos de 40 minutos o tal coveiro, lá no buraco arremessa uma “boneca” toda vestida de preto, com o semblante igualmente preto, no lugar dos pés um funil, parecendo uma boneca inflável, (no caso seca) que foi bater nos pés da gente. Deprimente a situação!

Os funcionários davam altas risadas com a falta de cuidado do amigo coveiro. Nem luvas, nem nada, eram na mão mesmo. A gente, com aquela cara de panaca, sem o que falar apenas em estado de choque e horror devido saber o que se transforma o ser humano.

Com 20 minutos, depois de ter a moça sido dobrada feito folha de papel e posto num “saco”. O marido sai calado para fazer seu rito fúnebre.

Toco a ligar pra casa funerária: - Manda o meu pai agora!

Chega o caixão, choro, despedida, saudades, essas coisas que comovem as pessoas, e nos faz lembrar que somos nada menos do que nada, se é que tem tal comparação.

Resumo: O que aconteceu com o marido da defunta - Hoje melhor dia 18 deste mês, também vai acontecer comigo... É minha vez agora.

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