quinta-feira, 24 de março de 2011

Quem são os culpados pelos bullyngs?

bullyng

Depois desta história do garoto Casey Heynes, “ carinhosamente” apelido de Zangief-Kid ( em analogia ao personagem Zangief do desenho Street Fighter), o assunto bullyng que já estava bem comentando nos tempos atuais, tomou proporção gigantesca nos programas de televisão da imprensa marrom.

Isto até que outro assunto banal qualquer apareça em destaque e substituía o atual comentando. Veja que o assunto “ Japão” nem apareceu nessas emissoras fora dos assuntos jornalísticos, justamente porque não dava IBOPE.

Mas... vamos seguindo o assunto, pois quero contar uma história de "bullyng pessoal", pois sou filho de pais nordestinos, que como tantos outros foram pra “ Sun Paulo” tentar a vida.

Com 30 dias de nascido em SP, comecei a viver como tantos conterrâneos, bullyng de todos os tipos conhecidos pelo povo sulista.

Desde os 2 anos, minha mãe contava que os vizinhos afastavam suas crianças da gente, para que não pegasse o nosso sotaque, próprio do nordestino.

Eles diziam que não queria que suas crianças falassem errado! Fora que nossa comida, era uma comida estranha, feita de bichos selvagens, como: Tatu, preá, galinhas d’angola e outros bichos, que aos olhos dos sulistas, era uma aberração.

Éramos seres extraterrestre vivendo na Terra, com o aval das autoridades, mas com o ódio oculto pela população local. Assim eu me sentia quando já sabia discernir as coisas.

A parti dos 10 anos era uma briga por semana, se não pouco 4 que eu tinha que enfrentar com “ coleguinhas” que não toleravam nossa presença nas ruas ou pátios de escolas. “Vale lembrar que essa intolerância vinha dos pais que “ apesar” de não diretamente influenciar o filho(a) ao preconceito; indiretamente contribuía com argumentos jocosos e de mau gosto, para com os “ contrabandeados do sertão ”.

Por sinal, todos os nordestinos eram chamados de Baianos ou Paraibas; e todos eram originados do “ NORTE”. Desconheciam completamente a regiao nordeste e seus 9 Estados.

Outra coisa que fazia confusão na cabeça deles é quanto a nossa música: Sertanejos e Forrozeiros, tudo num balaio só.

Sertanejo é uma coisa advinda da região Centro Oeste ou Norte. E forrozeiro: Nordeste.

Com essa premissa que somos todos “ caipiras”, tratávamos de conviver juntos em bairros tipicamente de gente vinda do “ Norte” para que com isso pudéssemos pelo menos ter dias melhores e paz em casa.

Mas nas escolas e ruas, isso era quase impossível de se ter. A ordem na minha casa era se:

- Se entrar em casa apanhado, vai apanhar de novo, para aprender a não trazer desaforo pra casa!

Essa besteirinha ai era um incentivo da porra!

Cansei de ter que levar minhas brigas até o fim, para não ganhar uma surra de cinturão de couro curtido de meu pai.

O pior era ter que engolir o choro após as brigas!

Uma criança, geralmente fica emocionalmente abalada após ter de enfrentar grandes brigas.

Principalmente, porque você já vem de um processo de bullyng desgastante. Palavrões, xingamentos sobre sua família e seu jeito de ser. Essas coisas vão minando sua capacidade de controle. Mas não tinha jeito! Era pau com as duas mãos.

Ou brigava e se defendia, sabendo que se batesse neles, a mãe do garoto viria pra cima de você e de seus pais cobrando satisfação. Ou apanhava e ficava por isso mesmo nas ruas, podendo ganhar fama de “ bundão” e apanhar em casa de novo. Ou seja, era matar ou matar, sem essa de correr.

Pra mim o pior era ter que brigar com gente nossa( nordestino x nordestinos). Por pior que possa ser, existiam conterrâneos que mais favorecidos pela labuta e pelo dinheiro, começavam respirar ares de playboy com sua própria gente. E seus filhos, tinham a mesma arrogância dos pais, e por vez ou outra o couro comia entre a gente.

Os nordestinos pobres, eram chamados pelos mais ricos de: “ Pobres, imundos, vagabundos e ladrões”

Conheci um que só batia na boca do estômago. Putz! Uma hora ou outra, ele vinha em você e mandava o murro no estomago. Era uma dor de perder o ar e ficar parado.

Levei umas 8 dessas na vida.

Até que um dia, eu sabendo que o safado tava caçando um “ Paraíba pobre” para dar outra esmurrada daquelas que a gente ficava com ódio. Resolvi me aproximar  de lado e mandei na fuça dele com toda força. O sangue jorrou! O moleque caiu no chão chorando de dor.

Daí por diante, descobri que ele tinha algo semelhante a nós ( pobres): Odiava murro no nariz, tanto quanto a gente no estômago.

Passei a dar-lhe alguns murros no naipe pelo menos mais umas 3 vezes, até que comigo ele parou de encrencar.

Daí por diante, sempre que mudava de bairro, e foi muitas vezes isso que fiz; encontrava de novo gente ruim pra provocar bullyng contra mim.

Tive brigas mano a mano e até com dois ou 3 ao mesmo tempo. Fui amarrado em poste, levei pedrada na boca.

Do nada tava sentado na calçada e lá vinha uma pedrada na fuça. Quando não era alvejado por estilingues. Teve um bairro em SP tão barra pesada para nordestinos, que eu tive que sair do colégio por 6 meses, vindo há perder o ano letivo, só para não morrer em brigas.

E para piorar fiquei 8 meses restringidos ao meu quintal, porque se saísse na rua, era vítima de bullyng. Até que um dia, um tal de Henrique Kamamura (japonês), encrenqueiro daqueles, que só queria me bater com seu parceiro preferido ( Gordo), toda vez que eu colocava a cara na frente da casa.

Esse ai eu peguei pouco antes de me mudar de novo. Certo dia tava brincando no quintal, ele viu de longe e pulou o muro pra me pegar desprevenido. Ele queria contar historia pra galera do bairro: que foi corajoso, pulando o muro “dos “ Paraíbas”.

Pulou e veio pra cima todo folgado, olhando de lado rapidamente pra ver se minha mãe não aparecia. Eu que já andava com instinto assassinado ligado por meses de sofreguidão, não contei conversa. Consegui dar o tal soco na boca do estomago, que tantas vezes já tinha levado do antigo conterrâneo-traira. Ele caiu no chão se contorcendo de dor...

Subi no japa e dei na cara com força, ele ficou todo machucado, minha mãe apareceu correndo e me tirou de cima, apanhei dela na frente dele, mas valeu à pena!

· Depois mais tarde minha mãe contou que eu apanhei, mas foi sem muita força, porque ela sabia que eu tava me defendendo, ela só queria que os vizinhos sulistas, soubesse que ela não pactuava com aquele gesto.

Bonito foi ver o pai dele, pedir perdão e obrigá-lo a se desculpar na rua para minha família toda. O seu Kamamura era sério que só a gota. Não queria isso pra seus filhos.

Agora depois desse episódio todo, fui morar na Miruna.

Um bairro bom, cheio de gente boa. Logo que cheguei fui bem recebido, uma italianada vizinha da gente deixou seus filhos brincarem comigo: André Piollho e Ana Paula, dois irmãos, que são meus amigos até hoje.

Emprestavam a bicicleta, jogavam bola comigo, ficávamos horas brincando na rua, sozinhos e com outros moleques. Nada de bullyn até algum tempo.

Até eu descobri que tinha turma da rua de cima e turma da rua de baixo e turma da Ceci, Miruna, Planalto, parecia grupo de gangues.

O Bullyng acontecia seja você que raça fosse, desde que não cruzasse a rua dos caras, você ficava na boa.

Só que tinha os períodos escolares... O colégio pelas manhas ou tardes. Como é que você pobre, tendo que ir a pé, poderia ir pro colégio sem cruzar ruas ou bairros?

Amigo, todo dia era uma situação de você ir alerta. Olhando de lado e ficando esperto.

Se fosse de bicicleta você podia se preparar pra perdê-la ou alguém quebrá-la toda.

Se o jeito era ir a pé, tinha de ir correndo ou andando no meio da rua, juntos dos carros.

Até que um dia, um filho de alemão, todo fortinho resolveu ser o guarda da rua. E passou a me perseguir direto.

Sempre na volta da escola, ele estava lá me esperando. Porra! Tinha tantos nordestinos, só eu que ficava na mira de alça dele?!

Todo dia tinha que correr kilometros atrás da minha mochila, do meu tênis, ou jaqueta.

Quando ele não saia me chutando até a minha rua!!!

Até que um dia, que digo que hoje sei como um serial killer nasce nos EUA. 

Eu cheio disso tudo e puto da vida, tinha sido humilhado na frente de todo mundo; resolvi que iria matá-lo!

Cheguei em casa e fui no quintal nas ferramentas de meu pai, e achei um parafuso grande daquele tipo rosca bem pontudo.

Coloquei na mão de forma ficar como uma soqueira, e achei que poderia dar um murro nele: na barriga ou nas costas, furando todinho o desgraçado do alemão. Eu tinha o sangue nos olhos nessa feita.

Fui pra rua dele e fiquei plantado na casa em frente, esperando ele sair. Fiquei a tarde toda nisso. E nada do alemão sair!

No outro dia fui pra escola com o mesmo parafuso no bolso, esperei a volta do colégio pra sangrá-lo e nada dele aparecer naquele dia.

Isso foi 3 dias seguidos. Eu não contava pra ninguém do meu plano sara maligno. Mas ele nada de aparecer.

Ate que na pelada de rua no sábado de tarde, eu tava descansado sentado no meio fio, então quando sinto um peso nos ombros bem forte. Olho pra trás, e vejo o alemão se apoiando em mim, falando comigo diretamente:

- Posso entrar no seu lugar?

(Eu) fiquei uns 30 segundos mudo, e disse:

- Po-po-po-de

Terminado a pelada, ele veio me abraçar, abraçou todo mundo, disse que foi uma partida do caraiiii e foi embora.

Deste dia em diante, só falava comigo na brincadeira e na camaradagem, vivia perguntando se eu tinha algum problema com alguém!!!

Achei que ele era outro ( ou o capeta tinha saído dele).

Fiquei bolado um tempão com o alemão maluco que quase furei um dia.

Deus sabe o que faz e me privou de uma vida difícil de delinqüente.

Bom finalmente, 2 anos morando na Miruna, apareceu surgindo do Rio de Janeiro, um garoto chamado Marcelo, que logo recebeu acunha de “Chocolate” ou fumaça, tanto faz, dependia de quem o chamava e pela coragem que tinha de dizer.

Marcelo: Era para os caras pequenos e com medo dele;

Chocolate: Os garotos de mesma idade, como eu com 12 anos, ele com 15, maior, só que bem magro, mas brigão, ou melhor, bom de briga;

- Eu mais uns 5 o chamava de chocolate nas peladas, brincadeiras e desavenças, mesmo sabendo que poderíamos levar cascudos na cabeça, coisa típica dele, para com os que ele chamava de “ folgados”.

Fumaça: Isso era pros caras maiores, de 17 e 18 anos. Esses caras apareciam de vez em quando na rua, batiam pelada conosco, andavam de bicicleta e nos ensinava dar empinadas nas bikes.

Marcelo que era folgado conosco e nos judiava, quando ficava perto dos maiores, queria se sobressair também, daí levou o apelido de Fumaça. (kkkk)

Como todo bom carioca, ele tinha ginga e molejo, mas quando apanhava dos “ maiores”, chorava feito criança.

Ele tinha a mania feia de chorar gritando, igual moleque manhoso, escancarando a goela pra todo mundo ver.

Daí parava de chorar, engatava a primeira na língua e soltava xingamentos e despautérios com todos que tinha batido nele. Após issom procurava uma pedra e tacava nos caras.

Marcelo tinha um dom de correr super rápido.  Puta que pariu! O cara corria e zigue zagueava, como um coelho. Não tinha cristão que o pegasse na corrida.

- Tanto é que passamos meses aprendendo o zigue zague dele. E sua forma de correr.

Outra coisa era sua forma de brigar que nos deixava puto. Até aquele momento, as brigas com garotos sempre começavam com empurra-empurra, e depois chave de pescoço com queda no solo: é aquela coisa de ficar se socando junto ao corpo.

Ele não!

O cara esgrimava no estilo boxeador. Batia na cara de mão aberta e se afastava e depois vinha de novo. No mínimo você saia de cara queimando de tanto levar  tapa na face.

Até que ele finalizava com soco no estomago ou  no nariz. Os meninos acabavam ficando com muito medo dele.

Era o reino do chocolate na miruna.

Até que um dia, eu já com 13 anos e quase pronto pra voltar pro nordeste, tava trabalhando com Chocolate numa escola de tênis de quadra. (Aquela com raquete tipo Guga faz)

Éramos os catadores de bolinha que cruzavam as quadras nos jogos.

Nosso pagamento era uma raquete por semestre, algumas bolinhas e aulas grátis no turno da tarde.

Em pleno dia de  domingo, jogando na rua:( porque para jogar sem rede, precisavamos demarcar com giz de tijolo a rua como se fosse uma quadra) e ficávamos jogando nela, com todos os moleques que quisessem aprender.

Nesse dia, tive uma partida super fodástica com Chocolate.

Disputadíssima! ponto a ponto! E o desgraçado deu pra começar a tirar onda do meu jeito de ser. Nordestino: família pobre, mãe falando engraçado, pai velho, essas coisas. Tudo pra desestabilizar, como sempre ele fazia, quando queria melar algo que tava ficando apertado pra ele. Eu comecei a entrar na pilha, e insultava também: - Macaco, fumaça, piche, asfalto, comedor de banana, essas coisinhas ai...

A partida seguia “ animadamente”, e a torcida gritava, ria e aproveitava pra insultar aos dois ao mesmo tempo.

Foi anoitecendo... Fiz um ponto que não queimou a linha, mas tava meio que suspeita. Eu queria o ponto pra fechar o game. Mas ele disse que não tinha sido bola boa.

Ficamos batendo boca, ele me chamando pra cair dentro.

Foi o que fiz:

Parti pra cima com a raquete, e quebrei-a na cabeça dele, e sai dando murro, chute, pontapés na cara, nas costas, na barriga, aonde tinha corpo eu batia.

Ele pela primeira vez correu, tentou o truque dele, eu também o seguia. Até que ele achou uma das bandas de tijolos usadas e mandou pra cima. Eu a aparei no cotovelo e deixei quebrar o tijolo. De tão cego nem senti dor, queria mostrar pra ele que não tinha medo. E que suportaria tudo. Ele tentou boxear, mas enchi de porrada, ate a boca sangrar, abri o supercílio dele e tudo. Meu pai viu, a rua toda viu. Saíram gente pra dedéu. Meu pai me arrancou de cima dele, virado num capeta. Deu-me uma orelhada e mandou pra casa. Entrei chorando de raiva, só que voltava pra rua pra vê-lo, querendo continuar. Ele ficou xingando meu pai, minha mãe jogando pedra no telhado da casa por umas 2 horas ainda. Meu pai com pena dele lavou a boca e rosto.

Não apanhei, porque tinha a condição de não ter apanhado na rua. Mas fiquei de castigo uma semana.

Levei 15 dias para vê-lo novamente no colégio. Mesmo assim a cara tava toda machucada. Ele ficou mandando recados pelos amigos dele que iria me bater, mas isso nunca aconteceu.

No dia que tava na rodoviária indo embora de SP, a única pessoa que foi se despedir foi o Chocolate. Meu ultimo amigo visto.

4 comentários:

  1. Eu tinha um colega mais alto mas acho que era eu que fazia bulling... ele nunca aguentava uma porrada. Ele mexia e não aguentava na porrada. Sempre depois da briga eu saia com um certo grau de satisfação. ainda sinto vontade de meter numa porrada ... peço sempre pra alguém arrumar confusão comigo, acho que não acontece devido a esse pacifismo de merda que tem hj.

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  2. não sabia que nossos conterrâneos passaram tantas descriminações aqui em são paulo ...saudades da minha terra.

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