quinta-feira, 19 de novembro de 2009

FLOR DE LIS

FLOR DE LIS

Por Oliver Alves Junior

- Estou grávida! 48 dias! – disse Maria, minha esposa, com os olhos marejados na clínica de tratamento hormonal.

Tendo tantos problemas para manter o feto em seu útero, o ginecologista sugeriu um último tratamento. Ele não garantiu que daria certo e a gravidez seria de risco, mas diante de tantos problemas, resolvemos tentar. Não conseguia conter as lágrimas de tanta emoção ao ouvir a notícia. Abracei-a fortemente.

No 120º dia de gravidez, fomos novamente ao ginecologista que nos acompanha e após um exame de ultra-som vimos o sexo do bebê. Era uma menina. Finalmente a rosa que faltava no jardim da nossa família floriu, colocamos o nome dela de “Margarida”, estávamos vivendo o auge do nosso amor.

Mas a linha que traça o destino da minha vida era outra, um dia recebi a ligação do médico da minha esposa querendo falar comigo em particular, o assunto era sério demais para ser tratado por telefone. Chegando ao consultório o médico me deu os cumprimentos com um semblante frio:

- Sinto muito João, mas a situação da Maria é grave, estou vendo os últimos exames dela aqui e o negócio é o seguinte: Só você pode resolver o problema porque se for sua mulher ela vai querer a pior das opções. Ela está com a gravidez prejudicada, se sua esposa continuar com ela poderá morrer no parto e o bebê poderá não sobreviver. A única solução é o aborto, você preservará a vida de Maria, mas infelizmente sua esposa não poderá ter mais filhos. Eu disse que a situação era complicada meu amigo.

-Não há uma terceira opção Doutor Renato?

- Não João, não há.

Entrei em desespero, não sabia qual decisão tomar, nem mesmo se diria a minha mulher essa difícil situação. Decidi então que não diria nada e arriscaria todas as minhas fichas na primeira opção que o Dr. Renato sugeriu. Ainda poderia haver esperanças que tudo desce certo. Orava a Deus todas as noites para que a minha decisão não fosse um erro irreparável, daria até minha própria vida, meu coração para que tudo desse certo, a Maria iria me fazer feliz a qualquer custo.

Infelizmente o destino não quis que fosse assim.

Hoje estou enterrando a minha esposa Maria, e a minha pequena flor natimorta Margarida. Na nuvem de poeira que sobe das pás de terra que as encobre, vejo que o meu jardim da vida ressecou. Morreu. Do pé que brotou Maria, nem Margarida nasceu.

Um comentário:

  1. Cara! Eu adorei teu conto. O final eh triste e bonito ao mesmo tempo. Gostei da paralelo com a música flor de liz do Djavan, muito bom. Vamos continuar mantendo correspondência literária. Quero ler mais textos seus.

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