terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A força moral da farda na resolução de conflitos

Coronel Batista
Na busca de espaço na mídia nacional para divulgar a beleza natural de Areia Vermelha, o Governo do Estado, da Paraíba em 1982, resolveu promover um grande carnaval naquele aprazível local.  Como parte da estratégia de divulgação foi convidada uma grande estrela da Rede Globo, que protagonizava a novela de maior sucesso na época.   
      
O Comandante da Polícia Militar determinou que fosse destacado um policiamento para o evento. Como o local das atividades tornava inviável o uso do fardamento comumente utilizado pela Polícia Militar, foi criado um uniforme mais adequado à situação. Era um calção preto e uma camiseta branca com a inscrição “Polícia Militar”, na frente e nas costas.  Foram também utilizados cintos de Guarnições, cassetetes de borracha e aparelhos de rádio.  Como se tratava de uma grande concentração de público os policiais não portavam armas. Era a primeira vez na Paraíba que a Polícia Militar se utilizava de um uniforme desse tipo.

Foi escalada uma Patrulha de vinte homens, sob o comando de um Tenente. A Patrulha estava vibrando com o êxito da missão. O Tenente começava a agradecer o trabalho dos policiais quando uma multidão acenou para os policias em gestos desesperadores. Por ordem do Tenente todos correram para lá. Pelos relatos de algumas pessoas, um grupo de veranistas tinha seqüestrado um policial e levado para o interior de uma residência localizada naquelas proximidades. Sem maiores indagações a Patrulha se dirigiu ao local apontado. 

Era uma casa de arquitetura típica do local, na porta tinha uns cinco homens, em trajes de banho e com ar de arrogância. O Tenente perguntou pelo Policial. Um dos homens respondeu ”ele está lá dentro, e vocês podem ir embora”. A Patrulha invadiu o terraço. Cerca de dez outros homens foram saindo do interior da casa e entrando em confronto com os policiais. O local era estreito para tanta gente. Não tinha como se fazer uso de cassetete.  Lutaram durante uns dez minutos. Eram tapas, muros e pontapés para todo lado. Todos batiam e apanhavam. Em volta a gritaria era grande. Um rádio transceptor ficou espatifado.

De repente dois policias fardados, ostentando no peito o escudo da Radiopatrulha, chegam ao local. Era um Sargento que em razão da sua idade era conhecido por “Tio Neco”, e um Soldado apelidado de “Penha Maga”, que era uma alusão ao seu porte físico. Ficaram parados e de braços cruzados na entrada do terraço.

Quando os caras da casa viram esses policiais fizeram carreira casa à dentro. A Patrulha entrou e resgatou o Policial. Era um Cabo da CPTran que estava em um quarto sentado em uma cama, bem tranqüilo. Quando o Tenente lhe interpelou ele disse que estava interditando uma rua, ali próximo, quando um veículo desobedeceu a sua ordem e ele sacou seu revolver para intimidar o condutor. Os ocupantes dos carros que vinham atrás achando que ele estava bêbado, lhe pegaram, tomaram sua arma e o levaram para dentro da casa onde aguardaria a chegada de uma Viatura Policial. Os caras da casa disseram que não sabiam que o grupo Comandado pelo Tenente era polícia e por isso reagiram.  A arma do Cabo foi devolvida e o caso dado por encerado. Nos corpos dos integrantes dos dois grupos viam-se marcas da briga.

Dois policiais fardados, sem necessidade de uso da força física, resolveram um problema que vinte outros milicianos à paisana e usando os punhos, não conseguiram resolver. Ficou constada a força moral da farda. 
  
Coluna publicada no Jornal "A União" do dia 15 de outubro de 2010, editada para o Blog Perguntas Intrigantes - Livre, por Oliver Alves Junior.

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